Nunca gostei de Olimpíadas. Mas não vá atrás de minha conversa porque quando criança eu também não gostava de palmito, jiló e quiabo. Mas cresci, e hoje adoro estas coisas, menos língua com quiabo, porque a baba me faz pensar no boi moribundo.
Se eu detesto Olimpíadas, por que me emocionei tanto quando vi na TV do restaurante o anúncio da escolha do Rio para 2016? Chorei. Pouquinho, disfarçadinho, mas chorei. Não tanto quanto o Lula, e nem enxuguei as lágrimas com aquela "toalhinha" de hotel estrangeiro que não tem bidê. Usei o guardanapo.
Acho que foi uma conjunção de fatores que umedeceu meus olhos, começando pela garçonete. Quando perguntou que molho eu queria na salada, indaguei das opções e ela enrubesceu. Pediu desculpas por ser nova e ainda não ter decorado os nomes. E como poderia? O cardápio era em inglês e rico em gírias australianas, além de calorias, muitas calorias.
Então ela tirou a cola do bolso e foi gaguejando os nomes escritos em letras trêmulas. Achei lindo ser atendido por uma garçonete que ainda não tinha sido transformada em um script ambulante com um sorriso de plástico grudado no rosto. Pedi que ela escolhesse qual molho eu devia escolher. Ela enrubesceu de novo. De repente sentiu-se cliente.
Na hora da sobremesa arregalei os olhos, impressionado com o tamanho do doce. Os olhos dela, tão arregalados quanto os meus, pareciam dizer: “Também estou impressionada! Não é incrível?”. A menina saboreava cada momento; ela vivia na pele o prazer dos primeiros dias, do primeiro emprego e, quiçá, do primeiro atendimento. Um prazer que milhares de jovens terão quando os Jogos Olímpicos chegarem à nossa raia.
Sim, porque as Olimpíadas, que eu nunca assisto, geram empregos aos montes e movimentam milhões na construção, indústria, transportes e turismo. Não que eu goste de turismo, também odeio viajar. Mas o mundo não é movido pelas coisas que eu gosto, e eu não sou burro para remar contra essa maré. Se é que burro rema.
Ouvi dizer que quando o Guga acertou no tênis o número de praticantes do esporte no Brasil dobrou. A venda de bolinhas cresceu 142%, e a de raquetes 133%. Tente imaginar o que virá atrelado aos Jogos Olímpicos do Rio. Vai estar assim de gringo que não vem só para ver o Rio. Os que não perderem o passaporte num assalto, vão querer visitar também a floresta amazônica antes que acabe. Mais negócios e empregos para as outras regiões.
Mas não é preciso esperar 2016 para medir os efeitos das Olimpíadas nos negócios. A venda de cerveja aumentou nos bares e restaurantes frequentados pelos filósofos de botequim. Eles andavam meio sem assunto com a mesmice da invasão da embaixada brasileira em Honduras, e de repente as Olimpíadas caíram de bandeja. O tempo médio de permanência da “Irmandade do Contra” nos botequins aumentou, estimulando toda a cadeia de negócios, da cerveja ao amendoim, passando pelo salaminho e pelos garçons e garçonetes, que viram suas gorjetas engordarem.
Os botequins nunca estiveram tão animados. Quer coisa melhor do que criticar os investimentos que serão feitos no Rio? Vai ter politicagem, vai ter corrupção, vai ter poluição... Nossa! A lista é interminável! Tantos problemas graves para o país resolver e o governo pensando em Olimpíadas! Por que não gastar na educação e no combate à fome os bilhões que serão gastos com gente fazendo piruetas?
Quase sinto vontade de engrossar as fileiras dos filósofos de botequim. Se ainda fosse universitário e reacionário eu com certeza estaria ali, falando mal das Olimpíadas, do palmito, do jiló e do quiabo. Mas cresci.
Esse cara é muito bom, resolvi postar essa matéria porque achei "simplesmente" show !
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